O ROUBO
No camarim de AMADA AMANDA e nos bastidores.
O camarim de AMADA AMANDA é muito colorido e bem desarrumado. Tem cetim e renda, mas já tudo meio roto. Tem flores de papel-crepon e São Jorge na folhinha.
(Há agitação nos bastidores. Os ATORES movimentam cenários e mudam cortinas, ainda vestidos nas roupas do número anterior.)
AMADA – (Entra no seu camarim e depara com CAMPÔNIO mexendo num armário.) Si?!
CAMPÔNIO – (Leva um susto, dá um salto e esconde nas costas algo que tem nas mãos.)
(Tempo)
AMADA – Que haces?!
CAMPÔNIO – (Ri nervoso)
AMADA – Que tienes ay?
CAMPÔNIO – Nada.
AMADA – Como nada?
CAMPÔNIO – Nada. Nada. Nada.
AMADA – Dame.
CAMPÔNIO – Eu não peguei nada, não.
AMADA – Que tienes en lãs manos? Déjame ver...
CAMPÔNIO – Não. Eu não tenho nada, não. Eu não tirei nada, não.
AMADA – Déjame ver... (e avança para ele).
CAMPÔNIO – Não... (e segura-a, derrubando-a sobre uma cadeira e escapa pela porta do camarim).
AMADA – Mas que és esso? Estás loco? Lárgame! (Atrás dele) Viene cá. Ladrón. Me devolva lo que tiraste de aqui. (Chega na porta do camarim.)
MÃEZINHA – (barrando-a) Mas que gritaria é essa?
AMADA – Adonde fué tu hijo?
MÃEZINHA – Campônio?
AMADA – Si, tu hijo.
MÃEZINHA – Não sei, por que?
AMADA – Pues trata de saberlo...
MÃEZINHA – Ora!
AMADA – ...Y acerlo devolverme lo que furtó de mi camarim...
MÃEZINHA – O que?!
AMADA – ...O yo iré a la policia.
(Os ATORES interrompem o que estavam fazendo e se aproximam.)
MÃEZINHA – Ah, mas era só o que faltava.
AMADA – Esso te lo digo yo.
CANASTRA – Mas o que foi que te roubou?
AMADA – No lo sé. No me dejó ver. Quando yo volvi a mi camarim el estava allá. ROBANDO.
MÃEZINHA – Olha lá como fala...
AMADA – Yo sabia hace mucho tiempo que tu hijo tiene la cabeza flaca. Pero no sabia que también era ladrón.
MÃEZINHA – Ladrão vírgula.
LOLOGIGO – Ô, Amada, calma.
AMADA – Ladrón si, que esso es la pura verdad.
MÃEZINHA – Tu trata de dobrar essa língua, ouviu? Sua gringa desaforada, que se não eu...
CANASTRA – Aleluia.
LOLOGIGO – Psiu...
DONA VIRGÍNIA – Calma, Dona Coisa.
MÃEZINHA – Tá pensando o quê? Tá pensando que todo mundo é da tua laia, é?
AMADA – De mi laia no.
MÃEZINHA – De tua laia sim, quê que tá pensando? Pois fique você sabendo que o Campônio é uma pessoa muito direita, viu? Não é que nem você não...
AMADA – Ah, és?
MÃEZINHA – ...Eu criei ele e eu sei, eu conheço o meu gado...
AMADA – (para os outros) Mire...
MÃEZINHA – Ele é incapaz de mexer numa agulha que não seja dele, tá me entendendo? Isso eu boto minha mão no fogo.
AMADA – Entonces que hacía el en mi camarim?
MÃEZINHA – Ah, minha filha, isso só você é quem pode saber.
AMADA – Yo?!
MÃEZINHA – Porque só você é que sabe as intimidades que andou dando pra ele, pra ele ficar te esperando no camarim..
AMADA – Intimidades?!
MÃEZINHA – É.
AMADA – Yo no soy mujer de dar intimidades a un débil-mental...
MÃEZINHA – Débil mental á a puta que te pariu.
CANASTRA – Mãezinha...
LOLOGIGO – Psiu...
AMADA – Pero mire que mujer!
MÃEZINHA – Como é que essa piranha vai chamando os outros de ladrão assim sem mais nem menos.
LOLOGIGO – Fala baixo...
MÃEZINHA – E de mais a mais, como é que vai dizendo assim que roubou se não sabe nem o que roubou.
AMADA – Ya dice que él no me dejo ver, el puso las manos assi (atrás das costas) y fugió.
MÃEZINHA – Conversa.
BRILHANTINA – Silêncio...
CANASTRA – Vamos parar com essa discussão que o público está ouvindo tudo.
MÃEZINHA – Pois que ouça.
AMADA – Pues yo voy a ver lo que falta acá y después te lo digo lo que fué que él ROBÓ! (e entra no seu camarim).
MÃEZINHA – É, eu quero ver tu provar o que está dizendo... (a porta do camarim da AMADA bate na sua cara) Ô sua... MUNDANA! (Para os ATORES, que a olham) Vamos ver, vamos ver. Vamos se mexer que o público está aí esperando... (e sai apressada, seguida por DONA VIRGINIA).
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