quarta-feira, 4 de abril de 2007

Cena 8

O ROUBO

No camarim de AMADA AMANDA e nos bastidores.

O camarim de AMADA AMANDA é muito colorido e bem desarrumado. Tem cetim e renda, mas já tudo meio roto. Tem flores de papel-crepon e São Jorge na folhinha.

(Há agitação nos bastidores. Os ATORES movimentam cenários e mudam cortinas, ainda vestidos nas roupas do número anterior.)

AMADA – (Entra no seu camarim e depara com CAMPÔNIO mexendo num armário.) Si?!

CAMPÔNIO – (Leva um susto, dá um salto e esconde nas costas algo que tem nas mãos.)

(Tempo)

AMADA – Que haces?!

CAMPÔNIO – (Ri nervoso)

AMADA – Que tienes ay?

CAMPÔNIO – Nada.

AMADA – Como nada?

CAMPÔNIO – Nada. Nada. Nada.

AMADA – Dame.

CAMPÔNIO – Eu não peguei nada, não.

AMADA – Que tienes en lãs manos? Déjame ver...

CAMPÔNIO – Não. Eu não tenho nada, não. Eu não tirei nada, não.

AMADA – Déjame ver... (e avança para ele).

CAMPÔNIO – Não... (e segura-a, derrubando-a sobre uma cadeira e escapa pela porta do camarim).

AMADA – Mas que és esso? Estás loco? Lárgame! (Atrás dele) Viene cá. Ladrón. Me devolva lo que tiraste de aqui. (Chega na porta do camarim.)

MÃEZINHA – (barrando-a) Mas que gritaria é essa?

AMADA – Adonde fué tu hijo?

MÃEZINHA – Campônio?

AMADA – Si, tu hijo.

MÃEZINHA – Não sei, por que?

AMADA – Pues trata de saberlo...

MÃEZINHA – Ora!

AMADA – ...Y acerlo devolverme lo que furtó de mi camarim...

MÃEZINHA – O que?!

AMADA – ...O yo iré a la policia.

(Os ATORES interrompem o que estavam fazendo e se aproximam.)

MÃEZINHA – Ah, mas era só o que faltava.

AMADA – Esso te lo digo yo.

CANASTRA – Mas o que foi que te roubou?

AMADA – No lo sé. No me dejó ver. Quando yo volvi a mi camarim el estava allá. ROBANDO.

MÃEZINHA – Olha lá como fala...

AMADA – Yo sabia hace mucho tiempo que tu hijo tiene la cabeza flaca. Pero no sabia que también era ladrón.

MÃEZINHA – Ladrão vírgula.

LOLOGIGO – Ô, Amada, calma.

AMADA – Ladrón si, que esso es la pura verdad.

MÃEZINHA – Tu trata de dobrar essa língua, ouviu? Sua gringa desaforada, que se não eu...

CANASTRA – Aleluia.

LOLOGIGO – Psiu...

DONA VIRGÍNIA – Calma, Dona Coisa.

MÃEZINHA – Tá pensando o quê? Tá pensando que todo mundo é da tua laia, é?

AMADA – De mi laia no.

MÃEZINHA – De tua laia sim, quê que tá pensando? Pois fique você sabendo que o Campônio é uma pessoa muito direita, viu? Não é que nem você não...

AMADA – Ah, és?

MÃEZINHA – ...Eu criei ele e eu sei, eu conheço o meu gado...

AMADA – (para os outros) Mire...

MÃEZINHA – Ele é incapaz de mexer numa agulha que não seja dele, tá me entendendo? Isso eu boto minha mão no fogo.

AMADA – Entonces que hacía el en mi camarim?

MÃEZINHA – Ah, minha filha, isso só você é quem pode saber.

AMADA – Yo?!

MÃEZINHA – Porque só você é que sabe as intimidades que andou dando pra ele, pra ele ficar te esperando no camarim..

AMADA – Intimidades?!

MÃEZINHA – É.

AMADA – Yo no soy mujer de dar intimidades a un débil-mental...

MÃEZINHA – Débil mental á a puta que te pariu.

CANASTRA – Mãezinha...

LOLOGIGO – Psiu...

AMADA – Pero mire que mujer!

MÃEZINHA – Como é que essa piranha vai chamando os outros de ladrão assim sem mais nem menos.

LOLOGIGO – Fala baixo...

MÃEZINHA – E de mais a mais, como é que vai dizendo assim que roubou se não sabe nem o que roubou.

AMADA – Ya dice que él no me dejo ver, el puso las manos assi (atrás das costas) y fugió.

MÃEZINHA – Conversa.

BRILHANTINA – Silêncio...

CANASTRA – Vamos parar com essa discussão que o público está ouvindo tudo.

MÃEZINHA – Pois que ouça.

AMADA – Pues yo voy a ver lo que falta acá y después te lo digo lo que fué que él ROBÓ! (e entra no seu camarim).

MÃEZINHA – É, eu quero ver tu provar o que está dizendo... (a porta do camarim da AMADA bate na sua cara) Ô sua... MUNDANA! (Para os ATORES, que a olham) Vamos ver, vamos ver. Vamos se mexer que o público está aí esperando... (e sai apressada, seguida por DONA VIRGINIA).

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