quarta-feira, 4 de abril de 2007

Cena 7

(Alegoria) – ALEGORIA DOS TEMPEROS

(Spot-móvel sobre o APRESENTADOR)

APRESENTADOR – Prá todo gosto há um tempero:
Bem suave... Com exagero...

APRESENTADOR – Diz um ditado que corre,
Que quem quiser conquistar,
Tem que saber temperar,
Pela boca o peixe morre.
Foi querendo lhe fisgar,
Que este quadro nós fizemos,
Cinco temperos pusemos,
Escolha ao seu paladar.

(O Cenário representa uma prateleira com cinco potes de tempero, em cada qual escrito o seu conteúdo: AÇÚCAR, SAL, PIMENTA, CANELA e CRAVO. Sai o AÇÚCAR do seu pote e se adianta. Ele é representado por uma atriz bonita. Ela vem e canta e dança.)

AÇÚCAR – No campo nascida,
Ai, fui espremida,
Ai, amaciada,
Ai, fui refinada:

AÇÚCAR – Pra adoçar a vida,
Eu fui educada.
Se me escolher,
Serei pra você,
Tão dócil porque,
Você nem sequer,
Precisa morder,
Ai, basta lamber.
É só me lamber...

(Sai o SAL do seu pote e se adianta. Ele é representado por um ator que dança bem. Ele vem e dança e canta.)

SAL – Eu nasci no mar,
Num dia de sol,
Em branco lençol.
Eu sei avivar.
Sem mim nada tem,
Sabor que convém.
Me escolha se não...

AÇÚCAR – Oferecido.

SAL – Não terá ação.

AÇÚCAR – Convencido.

SAL – Sem meu colorido.

AÇÚCAR – Pretensão.

SAL – O resto é insípido.

AÇÚCAR – Essa não...

SAL – Pois pode xingar,
De mim falar mal,
Só não pode achar,
Que eu sou sem sal.

(Sai a CANELA do seu pote e se adianta em ritmo de samba.)

SAL e AÇÚCAR – Chi, lá vem o criolo.

(A CANELA é representada por uma atriz vestida de passista-de-escola-de-samba e pintada de negro: uma espécie de All Johnson das saias tupiniquim.)

CANELA – Nasci nas florestas,
Dou gosto nas festas,
Meu cheiro é um xodó,
Sou chamego só,
Cor da verdadeira,
Mulher brasileira.
Me escolheram sem dó,
Em pau ou em pó.

SAL – Da raça,

AÇÚCAR – Coitada,

SAL – Carrega,

AÇÚCAR – Na vida,

SAL – As duas má-sortes:

AÇÚCAR – Uma é o cheiro forte!
Outra...

SAL e AÇÚCAR – Ou é na entrada, ou é na saída...

(Sai o CRAVO do seu pote e se adianta. Ele é representado por uma bicha. Ela vem e dança e canta.)

CRAVO – Na Índia nascido,
Eu sou perfumado,
Sou tão delicado,
Sou muito sabido.
No prato você,
Vai me separando,

CRAVO – E diz que é porque,
Eu sou diferente.
Mas se não tem gente,
Por perto olhando,
Você toca em frente:
Fica me chupando.
É só me chupando...

AÇÚCAR, SAL e CANELA – Vá para o seu lugar
Saia desta roda,
Que bicha já está,
Tão fora de moda!!!

(Sai a PIMENTA do seu pote e se adianta. Ela poderia ser representada por um ator em travesti-caricata, talvez o mesmo que faz Brilhantina. Ela vem e canta e dança e fala.)

PIMENTA – Eu venho do mato,
Sou forte e picante,
Se me usas bastante,
Te levo pro mato.

AÇÚCAR, SAL, CANELA e CRAVO – Hum...

PIMENTA – De qualquer maneira,
Me leve inteira,
Eu não dou bandeira,
Só dou...

CRAVO – Ah, não... .

CANELA – Quê é que é isso... .

SAL – Chi... .

AÇÚCAR – Que falta de classe... .

PIMENTA – Classe, é?! Hum, olha só a outra: Classe! Ela é muito classuda, né? Ela faz coisas...

AÇÚCAR – Ham?!

PIMENTA – Ela deve de ser lacrada.

AÇÚCAR – O quê?!

PIMENTA – É, gente de classe não ca...

TODOS – Psiu... .

CANELA – Pronto chegou a turma da baixaria.

PIMENTA – Sai daí também, sua negrinha pernóstica. Ora! (Para a platéia) Os senhores estão vendo como é que é que eu sou tratada? É assim. Ai, ultimamente eu ando tão desacreditada, minha filha que nem sei. Ninguém me usa mais. É. Agora. Antigamente não, antigamente eu era tão usada! Pra tudo... Nas comidinhas, nos dedos de quem roía unha, na língua de quem dizia palavrão. Lembra? Ai, esse era o uso que eu gostava mais: ser passada na língua, os senhores lembram? Não lembram? Ah, essa não. Os senhores estão todos se fazendo de desentendidos, viu? Porque duvido que tenha alguém aqui nesta sala que nunca levou na língua. Du-vi-de-ó-dó. Querem ver? Se tem alguém aqui que nunca, mas nunca mesmo me levou na língua fica de pé. Alguém? Alguém aí? (No caso de ninguém ficar de pé, o que é o mais provável:) Viu? Eu não disse? Todo mundo aqui já me levou na língua. O que quer dizer que todo mundo aqui já andou falando o seu palavrãozinho, né?

(Obs.: No caso de alguém ficar de pé deve ser feita uma improvisação com o espectador, talvez sobre o fato de ele não ter tido infância, sempre com piadas picantes, como cabem nesses números.)

SAL – Ai...

CANELA – Credo...

AÇÚCAR – Que coisa...

CRAVO – Que tripa mais sem graça!

PIMENTA – Sem graça,é?!

CRAVO – Sem gracíssima.

PIMENTA – Hum, quê que deu na outra? Não se enxerga não, sua lambisgóia?

CRAVO – Quem? Eu! Hum, nem te ligo.

PIMENTA – Não liga?

CRAVO – O que vem de baixo não me atinge, minha filha.

PIMENTA – É?

CRAVO – É.

PIMENTA – Então senta num formigueiro, sua desgraçada.

CRAVO – Eu, hein?! Você está mais é despeitada.

PIMENTA – Despeitada?! Eu?!

CRAVO – É. Você sim. Seus dias de glória, minha filha, acabaram. Nem arder você arde mais.

PIMENTA – Quem? Não ardo mais?

CRAVO – Nem um pouco.

PIMENTA – Olha aqui, boneca, só se eu não ardo mais no seu, viu? Porque no meu...

CRAVO – Ah! Espera aí, sua desaforada...

(O CRAVO avança na PIMENTA. Confusão.)

(Aparece MÃEZINHA num MESTRE-CUCA estilizado.)

MESTRE-CUCA – Silêncio...
Atenção:
Chega de besteira
Sou a cozinheira
Dou a conclusão:
Brigar não, não, não
Pois pra divertir
Melhor é unir
Vamos dar a mão.

TODOS – Prefere salgado?
Ou apimentado?
Ou adocicado?
Pois fique à vontade
Que nós, na verdade
Queremos fazer
O nosso freguês
Ficar conquistado,
Ai, bem conquistado...

(E isto cantado e dançado colocam-se na formação de pedir aplauso e termina a ALEGORIA.)

Nenhum comentário: