COMO SE CRIA UM ASSASSINO
Terceira e Última Parte
Nos bastidores e no camarim de AMADA AMANDA.
Obs.: O início desta cena é exatamente igual ao da CENA VIII – O ROUBO, isto é: há agitação nos bastidores. Os ATORES movimentam cenários e mudam cortinas, ainda vestidos nas roupas do número anterior.
AMADA – (entra no seu camarim e depara com CAMPÔNIO mexendo num armário) Si?!
CAMPÔNIO – (leva um susto, dá um salto e esconde nas costas algo que tem nas mãos. Tempo.)
AMADA – (à vontade) Que haces?
CAMPÔNIO – (familiarizado) Que dê?
AMADA – Quê? Las flores? Se murcháron. Entonces no sabes que lãs flores no duran mucho?
CAMPÔNIO – As flores não.
AMADA – Entonces?... (olha pra ele. Compreende.)
CAMPÔNIO – Aquela... A vermelha.
AMADA – Ay, ay, ay, ay, ay... Ya me llevastes todas, no tengo más que vestir.
CAMPÔNIO – (ansioso) Pois então não veste nada... (abraça-a)
AMADA – (firme) No, no. Deja-me.
CAMPÔNIO – (agarrando-a) Por que?
AMADA – Ay, que amarrotas mi pello.
CAMPÔNIO – (ansioso) Só mais uma vez, vai...
AMADA – (segura) No.
CAMPÔNIO – Quê que tem? Só mais essa.
AMADA – (empurrando-o violentamente) No, ya dice. No.
CAMPÔNIO – (Fica olhando pra ela, ofegante.)
AMADA – (seca) Déjame. Déjame sola.
CAMPÔNIO – (Não se mexe.)
AMADA – SAI!
(CAMPÔNIO se joga sobre a cama e esconde o rosto no travesseiro.)
AMADA – Pero... Que passa, hombre? Sala de aqui, ya te lo dice.
CAMPÔNIO – (não se mexe.)
AMADA – (fortíssimo) DÉJAME.
CAMPÔNIO – (Dá um salto e se agarra a ela) Não faz isso. Não faz isso. Só mais essa vez.
AMADA – No.
CAMPÔNIO – Que foi que eu te fiz?
AMADA – Nada.
CAMPÔNIO – Só uma. Só essa.
AMADA - (batendo nele) No. No. No. No quiero.
CAMPÔNIO – Só essa... Só essa...
AMADA – (dando lhe um tapa mais forte) Sai.
(CAMPÔNIO se joga na cama e esconde o rosto no travesseiro, choramingando.)
(Tempo.)
(AMADA caminha lentamente até a banqueta e senta-se, deixando as coxas a mostra)
AMADA – Mire Campônio.
CAMPÔNIO – Ai, Ai... Ai, Ai...
AMADA – (forte) MIRE.
CAMPÔNIO – (pára de gemer e levanta lentamente a cabeça.)
AMADA – Debemos hablar. Yo... Quiero decirte... No soy quien pensas. Fué uma flaqueza, aquella vez. Désteme las flores y... Yo soy uma mujer, sabes?
CAMPÔNIO – Eu sei onde tem mais flores...
AMADA – No.
CAMPÔNIO – Eu pego lá. Eu te dou.
AMADA – Callate. (tempo). No me compreendes. Yo soy uma mujer, sabes? Sola.
CAMPÔNIO – Sei.
AMADA – Yo misma tiengo que cuidar de mi.
CAMPÔNIO – Não.
AMADA – Que?
CAMPÔNIO – Eu cuido de ti. Eu cuido. Eu te dou as flores. Quantas tu quiser.
AMADA – Flores...
CAMPÔNIO – É. Bastante.
AMADA – (Gargalhada. Depois) Estúpido. Un persona no vive de flores. (séria) Que outra cosa me puedes dar?
CAMPÔNIO – Outra coisa?
AMADA – Si.
CAMPÔNIO – Não sei...
AMADA – Nada.
CAMPÔNIO – O que tu quiser. Tudo.
AMADA – (começa a tirar o vestido) Nada.
CAMPÔNIO – Tudo. Tudo. Tudo...
AMADA – (com intenção) Pelles... Jóias... Velludo... El centro del palco.
CAMPÔNIO – Como assim?
AMADA – (cara a cara) Qiuero la Compañia.
CAMPÔNIO – (quieto)
AMADA – (irritando-se) Claro que no compreendes nada. Y ahora basta. Déjame sola.
CAMPÔNIO – (ansioso) Tudo. Tudo. Tudo.
AMADA – (se aproxima dele lentamente)
(Tempo)
AMADA – Mire... Niñito loco. Oye bien. Yo seré la grande estrella del Brasil. Oíste? Repite conmigo: Amada Amanda... Vá, dice: Amada Amanda...
CAMPÔNIO – Amada Amanda...
AMADA – La grande estrella del Brasil...
CAMPÔNIO - A grande estrela do Brasil...
AMADA – Assi.
CAMPÔNIO – (agarrando-se a ela) Amada Amanda, a grande estrela do Brasil. Amada Amanda, a grande estrela do Brasil. Amada Amanda...
AMADA – (deixando) Isso. Assi.
CAMPÔNIO – (com a cabeça entre os peitos dela) Amada Amanda...
AMADA – Y yo teré la Compañia. Toda la Compañia. Solamente para mi. Oíste?
CAMPÔNIO – Amada Amanda...
AMADA – Oíste?
CAMPÔNIO – Amada Amanda, a grande estrela do Brasil...
AMADA – Isso... Isso... Y ella. Aquella mujer. Vá desaparecer. Sumir.
CAMPÔNIO – ...a grande estrela do Brasil...
AMADA – La grande estrella, isso...
CAMPÔNIO – ...do Brasil...
AMADA – Del Brasil, mi niñito perro. De todo el Brasil.
CAMPÔNIO – Amada Amanda, a grande estrela...
AMADA – (forte) Morrer.
CAMPÔNIO – (lentamente) ...a grande estrela do Brasil... (Afastando-se de repente) Mãezinha?!
AMADA – (em cima) Si.
CAMPÔNIO – NÃO.
(Silêncio. Eles se olham, estáticos. Então, muito lentamente, AMADA vai até a porta do camarim. Pára. Abre a porta de repente.)
(Silêncio)
CAMPÔNIO – (de repente, abraçando-se a ela) Amada Amanda, a grande estrela do Brasil. Amada Amanda, a grande estrela do Brasil...
(AMADA fecha a porta do camarim)
AMADA – (com ternura) Si. La grande estrella, mi niñito feo (e afaga seu cabelo).
CAMPÔNIO – (lento) Amada Amanda, a grande... (transita) Como no drama?
AMADA – Que?
CAMPÔNIO – O Coração dela.
AMADA – Ah!... (afagando seus cabelos) Muchas y muchas veces ya viviste la escena, verdad? No necessitas ensayos, verdad? Tu sabes muy bien como hacerlo, verdad?
CAMPÔNIO – O Coração.
AMADA – Si mi niñito viejo.
CAMPÔNIO – (agarrando-se outra vez a ela) Mais uma vez. Só essa. O que é que tem?
AMADA – Muchas veces...
CAMPÔNIO – Muitas?
AMADA – Cuantas quiseres, mi niñito siervo.
CAMPÔNIO – Mesmo?!
AMADA – (afastando-se) Pero ahora no. Después.
CAMPÔNIO – Agora.
AMADA – Después, te lo digo. Ahora déjame sola.
CAMPÔNIO – Depois?
AMADA – Si.
CAMPÔNIO – Jura?
AMADA – (rindo) Te lo juro. (Séria) Y ahora vai. Vai.
(Tempo. Então CAMPÔNIO vai até a porta. Pára. Volta-se)
CAMPÔNIO – Então só uma coisa, agora.
AMADA – Quê?
CAMPÔNIO – Aquela. A vermelha.
AMADA – Quê?
CAMPÔNIO – Aquela. A vermelha.
AMADA – (Numa gargalhada, vira-se de costas para o público. Está agora, de robe. Tira as calcinhas – vermelhas – e as joga para CAMPÔNIO, sempre sorrindo.)
CAMPÔNIO – (Apanha as calcinhas no ar. Ri também. Sai correndo.)
(LOLOGIGO sai de trás de uma cortina de cetim. Vendo-o, AMADA, pára de rir)
LOLOGIGO – (vai fechar a porta do camarim, tranqüilo) Não disse?
AMADA – (apreensiva) Eu não sei não.
LOLOGIGO – Quanto quer apostar?
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